Título: As Virgens Suicidas
Autor: Jeffrey Eugenides
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 231
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Sinopse: Num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos 1970, cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo plausível. A tragédia, ocorrida no seio de uma família que, em oposição aos efeitos já perceptíveis da revolução sexual, vive sob severas restrições morais e religiosas, é narrada pela voz coletiva e fascinada de um grupo de garotos da vizinhança. O coro lírico que então se forma ajuda a dar um tom sui generis a esta fábula da inocência perdida.
Adaptado ao cinema por Sofia Coppola, publicado em 34 idiomas e agora em nova tradução, o livro de estreia de Jeffrey Eugenides logo se tornou um cult da literatura norte-americana contemporânea. Não por acaso: essa obra de beleza estranha e arrebatadora, definida pela crítica Michiko Kakutani como 'pequena e poderosa ópera no formato inesperado de romance', revela-se ainda hoje em toda a sua atualidade.
A primeira informação que merece ser fornecida acerca de "As Virgens Suicidas" é que não se trata de uma história rasa, mas de um enredo perturbador. O sucesso proveniente do filme da diretora Sofia Coppola não faz com que a história seja desmerecida. Muito pelo contrário. É o típico livro em você termina de ler a última frase e pensa: o que define o ser humano? Uma pergunta impossível de esquecer.
A história é narrada por um suposto menino que teria convivido com as irmãs Lisbon. De início, ele já lhe anuncia que, após sucessos e fracassos, todas elas se suicidam, começando pela caçula, Cecília, um ano antes das demais, e terminando com Mary. Através da análise dos fatos, ele tenta encontrar uma explicação para o suicídio coletivo que se dá na mesma família em menos de um ano. E a resposta não é fácil de ser encontrada. Poderia muito bem ser um pacto realizado pela estranha Cecilia. Poderia ser a atitude antissocial das irmãs. Ou poderia ser o comportamento sufocante da mãe delas. Quem sabe não fosse apenas a genética? Poderia ser tudo isto e algo ainda não descoberto.
“O médico achou que Cecilia se beneficiaria de ‘uma válvula de escape social, fora da codificação escolar, que permitia a ela interagir com garotos da mesma idade. Aos treze anos, Cecilia deveria ter autorização para usar o tipo de maquiagem que é popular entre meninas de sua idade, pois só assim firmará vínculos com elas. Imitar costumes partilhados pelo grupo é um passo indispensável no processo de individualização’.”
Devo repetir que é um livro perturbador, pois não há outra palavra que o explique. A indignação com a atitude da Sra. Lisbon é gigante, e a ela atribuo boa parte da perturbação que me foi causada. Nenhum ser humano conseguiria viver sob as regras e loucuras daquela mulher, que, numa tentativa de proteger as filhas dos infortúnios da sociedade, acaba por enclausurá-las e impedi-las de viver, na contradição de negligenciá-las ainda que sob seu zelo extremo. "As Virgens Suicidas" é um livro sobre a forma como reagimos ao mundo e como ele nos molda. Nascemos assim, em um lugar assim, crescemos assim, e agimos, portanto, assim. Não eram meras adolescentes deprimidas em uma sociedade que as aterrorizava. Eram meninas incompreendidas, que viram em seus erros (reclusão, promiscuidade, suicídio) uma forma de encontrar uma vida mais feliz.
"Isso foi na época em que eles esperavam que os perigos viessem de fora, porque depois do suicídio de Cecilia nada fazia menos sentido do que um cômodo de sobrevivência enterrado numa casa que aos poucos se tornava um caixão."
O clima mais sóbrio - um tanto mórbido e melancólico também - do livro pode atrasar um pouco a leitura. Todavia, quando se alcança o ritmo, é impossível não querer descobrir aquilo que todos os personagens querem: qual fator levou as Lisbon à morte? Uma história realista, reflexiva e instigante.
"Em suma, o que temos aqui é uma sonhadora. Uma pessoa sem contato com a realidade. Quando pulou, deve ter imaginado que sairia voando"