Título: Escuridão Total Sem Estrelas
Original: Full Dark, No Stars
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 390
Onde comprar: Saraiva
ResenhaSinopse: Na ausência da luz, o mundo assume formas sombrias, distorcidas, tenebrosas. Em Escuridão total sem estrelas os crimes parecem inevitáveis; as punições, insuportáveis; as cumplicidades, misteriosas. Em 1922, o agricultor Wilfred e o filho, Hank, precisam decidir do que é mais fácil abrir mão: das terras da família ou da esposa e mãe. No conto Gigante do volante, após ser estuprada por um estranho e deixada à beira da morte, Tess, uma autora de livros de mistério, elabora uma vingança que vai deixá-la cara a cara com um lado desconhecido de si mesma. Já em Extensão justa, Dave Streeter tem um câncer terminal e faz um pacto com um estranho vendedor. Mas será que para salvar a própria vida vale a pena destruir a de outra pessoa? E, em Um bom casamento, uma caixa na garagem pode dizer mais a Darcy Anderson sobre seu marido do que os vinte anos que eles passaram juntos. Os personagens dos quatro contos de Stephen King passam por momentos de escuridão total, quando não existe nada — bom senso, piedade, justiça ou estrelas — para guiá-los. Suas histórias representam o modo como lidamos com o mundo e como o mundo lida conosco. São narrativas fortes e, cada uma a seu modo, profundamente chocantes.
''Odabi abriu ainda mais o sorriso, e Streeter viu algo terrível e formidável: os dentes do homem não eram apenas muitos e grandes demais. Também eram afiados.”
Já começo avisando que Escuridão total sem estrelas não é um livro para gente facilmente impressionável. Sem dúvida nenhuma ele tem os tipos de história que fazem você ficar com medo de ir ali na esquina. Mais uma vez, o mestre do terror e mais ainda, do terror psicológico, nos faz cair de cabeça em suas tramas, nos colocar no lugar dos personagens e nos faz viver através dele, imaginando que faríamos em seu lugar.
O livro é dividido em 4 contos, já apresentados ali na sinopse. Não vou me ater ao conteúdo dos contos porque acho que seria um pouquinho de spoiler demais. Quero que vocês – assim como eu – tenham toda o impacto que a narrativa do King pode dar. Ah, ele escreveu um posfácio… NÃO LEIAM até ter terminando todos os contos. Especialmente de Um bom casamento, pode fazer a história perde a graça.
Bom, King é muito feliz em jamais sair de sua zona de conforto (que é nos pôr na nossa zona de desconforto) e continuar usando e abusando dos sentimentos humanos para compor suas tramas. Cada conto tem um ponto fortíssimo nisso aí. 1922 temos a ganância. O gigante do volante temos a vingança. Extensão justa temos a inveja. Um bom casamento temos o autoengano. King nos fazer avaliar se realmente conhecemos aos outros e a nós mesmos e vai mostrando que tudo em nós depende do gatilho certo.
São histórias extremamente reais – daqueles que já aconteceram e ainda podem acontecer inúmeras vezes – e arrepiantes. Dois dos contos me deixaram especialmente aflita: Gigante do Volante e Extensão Justa. Acho que nesse ele discutiu mais ferozmente um tema que acho que deveria estar em maior evidência. E eu não estou falando do estupro em si, mas para o bom entendedor, King comentou sobre a mania que as pessoas tem de culpabilizar a vítima. Extensão Justa me incomodou por ver como é fácil para um ser humano de corromper quando movido pela inveja. A capacidade de viver a vida sabendo do mal que causou ao outro.
A narrativa é como sempre muito fluida, o jeito com o qual o King escreve é tranquilo de ler – apesar do tema. Cada página te deixa ávido para saber o que acontece no final. Se vai dar certo, se não vai. E há uma diferença entre o final desses contos e o final da maioria dos livros do King. Quem é veterano dele e ler esse livro vai entender o que digo.
Eu poderia fazer uma discussão gigantesca sobre a humanidade só usando esse livro 😛 O tempo todo eu ficava pensando sobre os casos que li da deep web ‘-‘ Ou seja, você meio que desperta pro lado ruim das pessoas e começa a se ligar que o seu vizinho pode ser assim… bom, deixo essa discussão pra vocês. E talvez para um futuro vídeo sobre as obras do King 😉
Sobre a edição: que design show! Começa já pelas laterais em preto *-* Dependendo da luz, o título some. Combina perfeitamente. As páginas são amareladas, a fonte e o tamanho estão ótimos. A diagramação é simples, mas não precisa de mais nada. A tradução e revisão estão impecáveis.
Enfim, para os aficcionados da literatura de terror, ETSE é certamente uma obra obrigatória e que cumpre com tudo o que promete.