Resenha: ''Prelúdio à Fundação'' e ''Origens da Fundação'' antecedem a melhor trilogia da ficção científica



Título:
Prelúdio a Fundação + Origens da Fundação
Autor: Isaac Asimov
Editora: Aleph
Páginas: 452; 406
Onde comprar: Prelúdio ; Origens
Sinopse: Prelúdio - O Império Galáctico é uma extraordinária conquista da humanidade. Seu domínio se estende por 25 milhões de mundos. Trantor, sua capital, é uma gigantesca metrópole povoada por 40 bilhões de habitantes. Um deles, no entanto, está destinado a transcender sua própria existência, embora não tenha consciência disso. Ele é Hari Seldon. Seu feito, a criação uma nova ciência que pode antecipar o comportamento das massas e prever acontecimentos futuros. Baseada em equações matemáticas, sua psico-história será, um dia, a pedra fundamental da Fundação.

Origens - O planeta original da raça humana foi destruído, muito tempo atrás. Apesar desse revés, a humanidade estendeu o seu domínio para 25 milhões de mundos. O proeminente Hari Seldon aprendeu que esse impressionante número mascara o possível fim da realidade como ele a conhece. Como primeiro‑ministro do Império, Seldon está em posição de contribuir para que a expansão universal continue. Mas como prever as variáveis do destino? Elas seriam mesmo imprevisíveis? Talvez seja preciso recorrer a um plano que possibilite à humanidade uma nova Fundação.

Resenha

Prelúdio


E, mais uma vez, contra sua vontade e sem saber por quê, Seldon ouviu a si mesmo responder:
- Eu tentarei.
E o rumo de sua vida estava definido.




MEU PAI DO CÉU. Preciso respirar :)

Mais uma vez este homem acabando comigo. Isaac Asimov <3 Lembro que comentei com uns amigos que achava que nunca mais teria uma conexão com uma serie de livros do mesmo modo que tive com Harry Potter. Descobri que errei feio quando conheci Fundação. Fiquei apaixonada pela trilogia principal há cinco anos atrás e agora caio de amores de novo por esse livro, que para todos os efeitos pode ser chamado de Livro 0. Vamos deixar de enrolação.

Prelúdio à Fundação narra os eventos anteriores a trilogia principal (que já tem resenha aqui no blog). Conta a história de como o matemático Hari Seldon desenvolveu a psico-história - ciência que é capaz de prever o comportamento de grandes populações. Essa ciência seria crucial para ajudar a humanidade a se salvar da decadência do império, que era prevista por Chetter Hummin, um jornalista trantoriano que se interessou pela apresentação que Seldon fez sobre a psico-história em uma conferência em Trantor, a capital do Império Galáctico. Depois dessa conferência, a vida de Seldon muda radicalmente e ele passa a ser perseguido pelo imperador e seu ''lacaio'' Eto Demerzel, que tinham intenção de usá-lo para se manter no poder. Com a ajuda de Hummin e a Dr. Dors Venabili, Seldon é encorajado a fugir das mãos do império para começar a procurar algo que torne a psico-história uma ciência praticável.

O livro é escrito em capítulos super curtos - o que, pra quem não leu outras resenhas minhas, me deixa doida de felicidade - e em terceira pessoa. É aquela técnica que permite você entrar na história, mas não saber o desenrolar dela até o final. Sabe, você fica martelando pra saber o que diacho o Seldon tá pensando, pois o narrador só dá algumas pistas. Ele também não segue só Seldon e Dors, mas também há cenas com Demerzel e o imperador Cleon.
A narrativa é ótima, como sempre. É frenética, toda hora tem ação e alguma coisa nova sendo descoberta. É no mesmo estilo dos outros livros, em que é dividido em partes e cada parte tem seus capítulos e geralmente cada uma delas é num lugar diferente. Nesse caso, em setores diferentes de Trantor: A Universidade, Mycogen, Dahl e Wye.

Em alguns momentos do livro, eu pude ter um insight do final, mas isso só por que eu já li outras obras de Asimov. Tipo, o final foi incrível e surpreendente, apesar de eu ter uma leve desconfiança. Se você não leu a trilogia ou outros livros dele duvido que ficaria menos chocado que eu. E esse livro não é relacionado só com a serie da Fundação, mas também com outra serie famosíssima de Asimov. Eu vou parar por aqui sobre isso, porque vou acabar dando um spoiler gigantesco.
Tenho que advertir que o tema central da série da Fundação é meio complicado e houve diálogos que precisei ler duas vezes pra entender direitinho e não perder nada, mas como eu já disse antes, o autor tenta escrever da forma mais simples e interessante possível.

Uma coisa engraçada sobre minha leitura desse livro é que como já li a trilogia principal, eu tive a tendência de imaginar Seldon como o velhinho que ele é no início do livro 1. Aliás, nesse livro ele está na casa dos 30 e aparentemente era um jovem atraente. Esquisito demais pra mim! Tava acostumada, haha. E foi muito complicado imaginar ele em suas cenas... joviais.

- Eu teria colocado a mão na sua coxa. - disse Seldon.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Mesmo que seus padrões de decoro na praia sejam mais altos que os nossos?
- Sim.
Dors se sentou na cama. Em seguida, se deitou e colocou as mãos atrás da cabeça.
- Então você não está particularmente inquieto com o fato de eu estar usando essa camisola com muito pouco por baixo dela?
- Não estou particularmente chocado. Quanto a estar inquieto depende da definição da palavra. Certamente eu notei como você está vestida.
- Ora, se vamos ficar encurralados aqui por algum tempo, precisaremos aprender a ignorar esse tipo de coisa.
- Ou nos aproveitarmos dela. - disse Seldon sorrindo (...)

Uma coisa que me deixou meio triste é que Seldon é um dos meus personagens favoritos, dentre todos os livros que li, e é um dos que tem uma história mais relevante. Bom, possivelmente o que fez alguma coisa mais importante do que os outros e como esse livro é todo sobre como ele lutou pra decifrar a psico-história, eu fiquei mal por saber que ele não viveu para ver se ela funcionou. :/
- Talvez seja prudente cogitar - respondeu Demerzel, com cautela - que, em vez de arriscar que Seldon caia nas mãos de Wye, talvez preferissemos que ele não caia nas mãos de ninguém. Fazê-lo deixar de existir, Majestade.
- Matá-lo, você quer dizer. - disse Cleon.
- Se são essas as palavras que o senhor deseja usar, Majestade - respondeu Demerzel.

Enfim, é mais um livro do Asimov e da Fundação que me conquistou completamente - em especial porque é quase todo voltado pra história do Seldon - mas como sempre tenho que avisar que recomendo estritamente para fãs da ficção científica. Se você está acostumado(a) com literatura mais adolescente (história de amor, sobrenatural) sugiro que, se decidir ler, esteja com a mente aberta. Essa é uma das grandes obras de sci-fi e como tal, tem suas vantagens e desvantagens para cada tipo de leitor.

Origens

- Devemos ter um profundo agradecimento ao professor Hari Seldon por nos haver relevado nossa verdadeira natureza. Inspiremo-nos em seu exemplo para nos determinar a manter vigilância e combater as forças mais cruas de nossa natureza humana.

Como li na sequência errada (Prelúdio e depois Limites e Fundação e Terra) acabou que a continuação de Prelúdio foi meu último livro da Fundação. E eu o li com muito carinho. Me forcei a ler poucos capítulos por dia para não acabar cedo demais, mas ontem e hoje não deu. Devorei as 280 páginas restantes o mais rápido que pude.

Bom, Origens começa oito anos depois dos eventos de Prelúdio e já podemos ver Seldon com os males da idade. O livro mostra definitivamente como se deu a criação da Psico-História e o estabelecimento das duas Fundações. Ele é - como sempre - dividido em quatro partes + epílogo que tem saltos no tempo entre uma trama e outra. Cada história tem início e fim e uma importância para o desenvolvimento da ciência de Seldon. Nos três primeiro contos (Denominados Eto Demerzel, Cleon I e Dors Venabili) eu sofri. Me senti meio que lendo Harry Potter de novo. Vou explicar porquê: meio que Seldon vai ficando desprotegido e tendo que se virar sozinho para manter os estudos funcionando. Mas não sofri tanto quanto no último conto, denominado Wanda Seldon, que mexeu com todas as minhas bases de todas as maneiras possíveis. Maldade, Asimov.

Resumo resumidíssimo dos contos

Eto Demerzel
Hari e Demerzel precisam lidar com uma das maiores ameaças até agora: a revolução joranumita. Atado aos limites de seu cargo, Demerzel pouco pode fazer para contornar as coisas e Seldon vê-se tendo que lidar com sua primeira crise do declinio do Império e sem poder contar com a ajuda da psico-história. Para isso, ele vai precisar da ajuda de seu filho adotado em Prelúdio - Raych.

Cleon I
Agora como primeiro-ministro imperial e mesmo tendo destruído Jo-jo, Seldon torna-se alvo da ira dos políticos passados para trás. Dors então entra em cena e sua presença e força incomum tornam-se conhecidas e isso é algo que pode ter consequências futuras.
Seldon continua desconfiado do grupo joranumita e percebe os padrões em certas falhas no sistema de Trantor. Então, decide investigar novamente com Raych, sem saber da armadilha que estava sendo construída para ele.

Dors Venabili
A psico-história agora está se desenvolvendo rapidamente e Yugo Amaryl e Seldon começam a ficar mais esperançosos, usando novos dispositivos que ajudam o estudo a seguir mais rapidamente. Por outro lado, partindo de um sonho de sua neta, Wanda, Dors passa a desconfiar que um complô está sendo armado para o assassinato de Seldon.

Wanda Seldon
Agora já perto dos 70 anos, sem o apoio necessário para continuar seu projeto devido à decadência do império e o luto por suas perdas, Seldon acaba ficando desanimado com a psico-história, pensando até mesmo que ela nunca seria desenvolvida e a Fundação jamais seria implantada. Então, uma coisa acontecida entre sua neta e Yugo Amaryl lança a ele a luz que precisava para pensar na existência da Segunda Fundação.

Origens foi um livro muito sofrido. Não só por ser minha última história da Fundação (que é minha segunda saga favorita), mas por conter acontecimentos para os quais eu não estava preparada. As perdas do Seldon foram minhas também. Eu não tava pronta pros feelings. SÃO MUITOS FEELINGS. E cada conto tinha alguma coisa que eu conseguia relacionar com o mundo real atual e isso meio que me deixou naquela sensação de mindblow. Já li algumas críticas sobre as histórias do Asimov que diziam que ele perdia credibilidade por não ser atemporal. Na boa, quem escreveu isso é louco ou não sabe ler. A cronologia apesar de ter as datas bem erradas (coisa que acontece com Ray Bradbury também e não vejo ninguém falando besteira), faz perfeito sentido juntando toda a sua obra (o fim da eternidade, a série dos robôs e a série do império galáctico se complementam e uma leva à outra) e se você analisar direito as coisas que ele comenta e julga ainda acontece e de forma pior. Bom, para quem não sabe a queda do império galáctico foi baseada na história de Roma. O cara sabia o que tava fazendo.

- Mas depois de todo esse tempo você fracassou, pai. Não é crime nenhum fracassar. Você tentou arduamente e foi muito longe, mas acabou dando de cara com uma economia em desintegração e um Império em decadência. É precisamente tudo que você veio predizendo ao longo de muitos anos que está impedindo a continuidade de seu trabalho. Portanto...
- Não. Eu não vou parar. De um jeito ou de outro, vou seguir em frente.

Enfim... Origens me surpreendeu de formas boas e ruins ao mesmo tempo (diferentemente de Fundação e Terra que só me deu alegrias), não por falta de qualidade na história, mas pela realidade crua dela. Eu tô numa ressaca literária fortíssima e sem vontade de ler por um tempo D: estou em estado de recuperação.

E sabe uma coisa legal? Como bem sabemos a psico-história é desenvolvida e as Fundações são estabelecidas, mas mesmo com todas as tramas e diálogos a mecânica disso permanece uma incógnita. Ele explicou e não explicou como isso aconteceu. Adorei.

Sobre a edição:  a arte da capa, a meu ver, não combina muito com a história, a revisão teve bem poucos erros e tem o simbolozinho da Fundação (sol e foguete) demarcando os ''capítulos''. Fonte e tamanho ótimos. Páginas amareladas ficam no meu coração.

Finalizando... mais uma livro maravincrível do mestre da ficção científica que me deixou cheia de sentimentos e de queixo caído com a inteligência e humilde de um ser humano. Ressuscite pra eu te abraçar, Asimov!


É evidente que Seldon queria ser uma incógnita, exceto quando o assunto era psico-história. É como se ele acreditasse - ou quisesse que os outros acreditassem - que era apenas um psico-historiador e nada mais. - Enciclopédia Galáctica.

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