Resenha: Depois de Você



Título:
Depois de Você
Autor: Jojo Moyes
Editora: Intrínseca
Páginas: 320
Onde comprar: Amazon | Saraiva
Sinopse: Em Depois de você, Lou ainda não superou a perda de Will. Morando em um flat em Londres, ela trabalha como garçonete em um pub no aeroporto. Certo dia, após beber muito, Lou cai do terraço. O terrível acidente a obriga voltar para a casa de sua família, mas também a permite conhecer Sam Fielding, um paramédico cujo trabalho é lidar com a vida e a morte, a única pessoa que parece capaz de compreendê-la. Ao se recuperar, Lou sabe que precisa dar uma guinada na própria história e acaba entrando para um grupo de terapia de luto. Os membros compartilham sabedoria, risadas, frustrações e biscoitos horrorosos, além de a incentivarem a investir em Sam. Tudo parece começar a se encaixar, quando alguém do passado de Will surge e atrapalha os planos de Lou, levando-a a um futuro totalmente diferente.

Ano novo, livros novos, mas algumas histórias antigas permanecem. A algumas semanas do lançamento do terceiro e último livro da trilogia iniciada como "Como eu era antes de você" (resenha aqui), migro para cá a resenha de "Depois de Você", o segundo livro da história de Jojo Moyes sobre a cativante Lou, que deu origem ao filme homônimo, "Como eu era antes de você" (análise do filme aqui).

Mal saiu a continuação de “Como eu era antes de você”, eu corri para a livraria para comprá-lo. Embora sempre haja um receio de que a continuação não atingirá as expectativas, não me importei. Infelizmente, não consigo dizer que “Depois de você” superou as minhas. É uma boa história, sem dúvidas. É engraçadinha, tem um romance agradável, um toque de emoção. E seria fantástica, se não fosse a continuação de outra com a qual tenta, sem sucesso, dialogar.


Honestamente, não queria ser dura com a história, porque gostei dela como uma história à parte, dissociada da primeira. Isto porque a autora não mostrou propriamente, de forma emocionante, como os personagens seguiram com suas vidas após “Como eu era antes de você”. Não costumo gostar de continuações cujo problema principal não possua ao menos indícios no livro anterior, e não foi diferente com este livro. Jojo Moyes criou uma nova história e justificou-a com aquela simples justificativa de “eles não sabiam, lidem com isso”. Gostaria mais se ela tivesse focado em como a vida realmente seria sem a “bomba” que ela joga aos personagens e aos leitores.

Falar sobre a história sem spoilers é um pouco difícil, justamente porque essa reviravolta é o que dá movimento a toda a continuação. Farei, então, uma análise na medida do possível. Lou está muito diferente da época em que trabalhava para os Traynor. Não usa mais suas roupas coloridas, nem possui ideias mirabolantes. Afinal, ninguém mais precisa ser salvo, porque a única pessoa que precisava desistiu de tudo. E essa pessoa não sabe, mas, ao desistir, destruiu uma parte de todos aqueles que a amavam. Lou agora tem um bom apartamento, viajou para vários lugares, e, ainda assim, não conseguiu seguir em frente. Depois de perder a vaga de estudos que possuía, arranjou um emprego medíocre e passou a beber constantemente. Até que, um dia, alguém apareceu. E ela, literalmente, quase morreu.

Todos pensaram que Lou estava depressiva e que se jogara do prédio em que morava, apesar de suas tentativas de explicar que alguém a assustara enquanto andava pelo terraço. Porém, todos se surpreenderam quando a misteriosa pessoa reapareceu e, sobretudo, quando descobriram que ela possuía uma forte ligação com Will.

Lou poderia fugir de tudo. Poderia ir para Nova York trabalhar ou ter um romance com o paramédico Sam. Todavia, não parecia justo que ela abandonasse a memória de Will e ignorasse aquela pessoa do passado dele. Ela precisava fazer isso como uma forma de retribuir a Will tudo o que ele lhe fizera e de honrar o que ele significava para ela. Mas será que ela não estaria justamente fugindo de sua própria vida?

A Lou de “Depois de você” é muito diferente da Lou de “Como eu era antes de você”. A Lou que conhecemos não existe mais; foi substituída por uma bem menos alegre e bem mais acomodada que a anterior. Toda a comodidade presente naquela Lou que continuava com seu noivo viciado em corridas foi aumentada. De modo algum acho ruim para a narrativa, pois foi um detalhe coerente. Foi adequado que a Lou não superasse instantaneamente tudo o que ocorreu há quase dois anos e que manifestasse isso através da forma que melhor sabia: se acomodando e deixando a vida passar. Mas devo admitir que incomodou e acabou retardando minha leitura.

Na maior parte da história, Lou encontrava desculpas para não viver sua vida. E não adiantava que todos lhe mostrassem o quão erradas estavam algumas de suas escolhas. Ela insistia em ser altruísta para arranjar desculpas para não viver, mesmo quando ser altruísta significava suportar uma pessoa completamente irritante somente porque ela tinha uma relação com Will.

A parte boa da história – fora a reflexão sobre comodidade e seguir em frente – foi o romance que surgiu entre Lou e Sam. Sam é o paramédico que a socorre depois da queda e que possui laços familiares com um dos colegas de Lou do grupo de luto. A relação entre eles começa de uma forma leve e vai avançando em revezamento com o grande passado de Will. O problema é que Lou nunca é capaz de se entregar, porque tem que cuidar dos problemas que deveriam ser de Will, o que leva a um desgaste do relacionamento.

“- Sabe, se apaixonar por alguém não significa que você amou menos […]. Não precisa ficar triste para continuar ligada a ele […]”


Como sempre, os personagens de fundo também tiveram algumas histórias. Temos os problemas pessoais da pessoa relacionada a Will (uma parte mais pesada, lembrando um pouco o que ocorreu com Lou na adolescência), temos uma visão melhor de sua irmã Treena (que, ao contrário de Lou, não pode simplesmente seguir em frente e fazer o que quer do futuro, porque tem um filho), temos uma mãe se rebelando contra a sociedade machista (essa parte poderia ter ficado um pouco menos infantil, mas aprecio a tentativa da autora de inserir a discussão, sobretudo quando faz um contraste entre a tentativa de uma mulher mais velha voltar a viver e a relutância de Lou em começar a viver de fato) e temos um vislumbre do que aconteceu com os pais de Will também. Diferentemente do primeiro livro, somente um personagem, além de Lou, teve um capítulo sob seu ponto de vista: a misteriosa pessoa do passado de Will, sobre a qual não posso falar, pois ultrapassaria o limite permitido de spoilers em uma resenha.

O final foi bom. Não foi tão emocionante quanto o do primeiro livro, mas não foi o esperado, ganhando pontos positivos, e foi coerente com a história.

“- Gosto de dizer que, embora o nome do grupo seja Seguindo em Frente, nenhum de nós segue em frente sem olhar para trás. Seguimos em frente sempre levando aqueles que perdemos. O que temos a intenção de fazer em nosso pequeno grupo é assegurar que trazê-los conosco não é um fardo impossível de carregar, um peso que nos mantém empacados no mesmo lugar. Queremos sentir a presença dessas pessoas como uma dádiva.”

“E o que aprendemos compartilhando nossas memórias, nossas tristezas e nossas pequenas vitórias é que não há problema em ficar triste. Ou perdido. Ou com raiva. É normal sentir certas coisas que os outros não podem entender, e algumas vezes por bastante tempo. Todo mundo tem um percurso próprio. Nós não julgamos.”


Não me arrependo de ler o livro. Mesmo que eu tivesse lido uma resenha que contivesse tudo o que eu escrevi, eu o leria. Como disse anteriormente, é uma boa história. É um livro agradável e, ultrapassada a irritação inicial com a protagonista (o que ocorre antes da metade, quando o romance com Sam realmente engata), a leitura flui rapidamente. Não diria que é um livro excepcional, mas não é um livro que desagrade. O maior problema foi a forma como a interação com o primeiro livro se deu: uma leve frustração para uma pessoa que havia gostado bastante da primeira história.

Quanto à continuação, intitulada "Ainda Sou Eu", os sentimentos são conflituosos. O final de "Depois de Você" pede uma continuação, ainda que não seja aberto. Todavia, é difícil encara outra continuação para "Como eu era antes de você" quando se trata o livro do meio como uma história diversa. Assim, pretendo ler para ver como a história de Lou de "Depois de Você" termina, mas a história da Lou e do Will do primeiro livro permanece sem outros livros.

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